Produtor relata benefícios obtidos com irrigação em lavoura de milho
- IRRIGAÇÃO POR PIVÔ CENTRAL
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA REVISTA O CAMPO - COOPERMOTA
"Cheguei a obter uma diferença de 200 sacos por alqueire. É um investimento que compensa muito. Eu recomento. Para quem tem acesso a água vale muito a pena", afirma produtor
Todo produtor rural sonha em realizar o cultivo de suas safras em meio a um equilíbrio climático em que haja chuvas e sol com regularidade. Porém, nem sempre esta condição ideal é alcançada. Em tempos de pouca chuva é comum os agricultores dedicarem parte de seu tempo olhando para os céus e para as previsões meteorológicas à espera da chuva que venha garantir a sua produção sem perdas de produtividade, para além das intervenções que possa fazer como complemento à necessidade das precipitações pluviométricas. Algumas regiões, porém, costumam registrar situações de adversidades com mais frequência em relação a outras. Assim era o caso do produtor Erwin Neumann, na região de São José das Laranjeiras, Fazenda Água Branca e Sítio Boa Esperança. Ele conta que na área onde realiza o cultivo de grãos é comum haver tempos de estiagem. Sua propriedade está localizada em uma área de terra roxa, conhecida pelos produtores como “sangue tatu”, a qual, segundo ele, seca mais do que o normal.
Na década de 2000 Neumann já ouvia relatos de produtores que vinham obtendo sucesso na implantação de irrigação em suas áreas e se interessou pela iniciativa. Encontrou na irrigação de parte de sua propriedade a saída para a melhoria de produtividade frente às adversidades vivenciadas, mesmo em períodos de menos chuva. Em 2002 implantou o primeiro pivô central, movido a diesel, com capacidade de 270 metros cúbicos por hora. O equipamento proporcionava 15 milímetros de umidade em 48 horas de irrigação.
A certeza de que havia feito um bom negócio, segundo Neumann, veio em 2007, quando houve um período de estiagem mais longo e na safra de milho obteve 200 sacos por alqueire a mais em relação a um local sem irrigação. Ele afirma que não tem dúvidas de que a irrigação é um bom negócio, contudo, enfatiza a importância de haver chuvas com regularidades para que este seja um complemento na umidade do solo
“Hoje já conheço bem como lidar com a irrigação, mas foi tudo muito na tentativa e erro. Plantei diversas culturas como o arroz, o feijão e o tomate. Experimentei com estas culturas um ano muito bom, mas não consegui obter os mesmos resultados no ano seguinte. Já com o milho as vantagens são visíveis”, afirma.
Depois de alguns anos com o primeiro equipamento, Neumann adquiriu outro conjunto de pivô central, este menor que o primeiro, tendo capacidade de irrigar 13 alqueires. Com o anterior, que alcançava 30 alqueires, totalizou 43 alqueires irrigados.
As vantagens que vinha obtendo com os equipamentos levou o produtor de São José das Laranjeiras a investir em outros conjuntos menores para uma área de 18 alqueires. Foram adquiridos seis bases e três painéis, elétricos, totalmente autônomos, contudo, o controle ainda não é por controle remoto porque, segundo o produtor, ainda é caro para a sua realidade. “É um investimento que compensa muito. Eu recomento. Para quem tem acesso a água vale muito a pena. A obtenção da outorga pelo uso da água também não é tão difícil”, diz.
O agricultor acrescenta que a irrigação proporciona uma umidade ao solo que lhe traz segurança, diminuindo os riscos naturais de uma produção agrícola. Irwin comenta que além dos benefícios de manter o equilíbrio hídrico do solo, a irrigação proporciona um aumento da matéria orgânica mantida no solo, oferecendo residuais que serão importantes para a cultura seguinte. Diante dos benefícios que lista frente a iniciativa, afirma que tem planos de ampliar a área irrigada.
Os sucessos obtidos por Erwin levaram o filho, Edwin Neumann, a também implantar na área em que arrenda para o plantio de grãos, um sistema semelhante de irrigação. Neste caso, porém, o modelo adotado foi o rebocável, tendo em vista não se tratar de uma área de sua propriedade, entre outros fatores. Edwin possui um equipamento de 95 cavalos, sendo 20 deles submersos na represa de onde retira a água. Os dois trabalham juntos e dividem os conhecimentos que adquiriram no setor.
No sistema rebocável, o maior controle de vazão é destacado pelo produtor como importante. Com o equipamento que possui, Edwin consegue fracionar as vazões da água, impedindo que haja duplicidade de irrigação por onde os tubos já tenham passado devido ao deslocamento entre uma área e outra.
A definição de qual padrão do equipamento a ser instalado na propriedade precisa levar em consideração as necessidades e especificidades da propriedade. Com o pivô rebocável, de menor porte, o produtor tem a opção de fazer irrigações de faixas lineares, além das tradicionais disposições circulares. É indicado para áreas menores. Já a irrigação com pivô central fixo adapta-se a áreas maiores.
Além de equilibrar a umidade do solo em caso de estiagem, a irrigação também proporciona a manutenção da disponibilidade hídrica do solo no momento certo do desenvolvimento da cultura, surtindo efeitos de maior produtividade mesmo em períodos de chuva mais regular. Além disso, possibilita o plantio de até três culturas em um ano, como é o caso de produtores da região de Santa Cruz do Rio Pardo que conseguem intercalar na entressafra da soja, as culturas do feijão e do trigo.
Irrigação no Brasil
O levantamento da agricultura irrigada por pivôs centrais no cenário nacional brasileiro, realizado em 2014 pela Embrapa, cita que dados da FAO (2012) situa o Brasil na nona posição de maior área irrigada no mundo, contudo, a abrangência ainda é considerada pequena frente a amplitude territorial do país e a sua disponibilidade hídrica. No entanto, o mesmo estudo destaca um crescimento gradativo da adoção deste sistema nas lavouras do Brasil, principalmente em culturas como o milho, a cana-de-açúcar, a soja e outros. Dados do IBGE registram um crescimento em torno de 7% ao ano na média anual desde a década de 1960, no que se refere a quantidade de áreas irrigadas no Brasil.
Ainda segundo o levantamento da Embrapa, o crescimento registrado pelo IBGE é ratificado pelos números de expansão do setor disponibilizados pela Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – CSEI/Abimaq. Conforme a instituição, até 2014 a abrangência do setor chegava a 2,27 milhões de hectares.