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Início desta safra de soja teve grande parte das plantações em situação de matocompetição

05/03/2015

Início desta safra de soja teve grande parte das plantações em situação de matocompetição

  • MILHO TIGUERA

Tem sido recorrente a existência de até 10 plantas de milho por metro quadrado nas culturas de soja na região e em várias partes do país

A colheita já está em andamento na região, mas o restropecto do início da safra tem o registro de uma grande quantidade de propriedades com muito milho tiguera. O produtor já tem anotado na planilha de acompanhamento de sua lavoura, ou ainda, bem delimitado em sua memória, a sequência de atuação que terá durante uma safra que é iniciada. Um bom tratamento de sementes, aliado às práticas de cuidados com o solo e a manutenção das máquinas em situação adequada de uso são algumas das medidas normalmente adotadas por ele ainda no início da cultura que será cultivada. Porém, não há nenhuma iniciativa que seja conclusiva entre os tratos culturais de sua produção. O manejo e o acompanhamento de tudo o que ocorre devem ser constantes na lavoura para que a definição do momento de intervenção do agricultor em relação às pragas e doenças seja eficiente, de forma a evitar prejuízos econômicos e as quedas de produtividade. No caso do milho tiguera, por exemplo, a espera por um maior desenvolvimento de ervas daninhas na busca por uma única aplicação de herbicidas na cultura pode resultar em situações de difícil controle desta erva daninha na safra de soja.

A competição de desenvolvimento entre o milho tiguera e a soja é bastante prejudicial à cultura como um todo. No Vale Paranapanema, esta praga tem se mostrado cada vez mais abrangente, estando presente na maioria das lavouras. Nesta safra, em muitos casos, chegou a ser possível a confusão sobre qual a cultura havia sido semeada no local. A incidência do milho considerado como erva daninha na soja tem sido comum nas áreas em que a cultura antecessora foi de milho BT, resistente ao glifosato, e tem crescido gradativamente a cada safra. Nesses casos, a dessecação prévia à semeadura precisa ser realizada com produtos à base de glifosato, acrescidos de graminicidas. Isso porque o milho tiguera não é atingido pelo glifosato devido à sua resistência ao produto. Entre os graminicidas estão os de pré e de pós-emergência à base de clomazone, sulfentrazone, diclosulam e flumetsulam, cletodim, sethoxydim, diclofop-methyl, fluazifop-p-butyl.

Pesquisa desenvolvida por J.C. Durigan e publicada em revista científica da Cielo, ainda em 1983, já demonstrava o efeito da matocompetição na soja.  O estudo comprovou que a interferência das ervas daninhas no desenvolvimento desta cultura altera, inclusive, as características morfológicas do cultivar, como por exemplo a altura, o número de ramos e de vargens produzidas.

O manejo no período de entressafra se torna eficiente pois permite a utilização de roçadeiras e equipamentos de grande porte para esta iniciativa. Já com as plantas de soja em desenvolvimento, o ideal é que o controle do milho tiguera ou qualquer outra erva daninha ocorra antes da fase de formação de sementes dessas pragas.

O engenheiro agrônomo da Coopermota, José Roberto Gonçales Massud salienta para a importância de não haver a matocompetição na soja. Ele cita pesquisas que apontam reduções em torno de 30% na produtividade da lavoura. “Não adianta fazer tudo certo se não se atentar para o controle do milho na soja. Infelizmente o produtor ainda não enxerga o milho como uma erva daninha”, comenta. Ele destaca que quanto mais cedo o milho tiguera for contido, melhor serão os resultados na cultura. “A quantidade de milho tiguera tem aumentado muito nas lavouras na nossa região, o que é um absurdo”, diz. Massud acrescenta que alguns produtores têm optado por passar implementos que removem a terra para conter o desenvolvimento dessa erva daninha, mas com isso, as sementes são enterradas e o problema não é extinguido de forma satisfatória.

O agrônomo cita que nos casos em que o controle da erva daninha é deixado para ser realizado com ela já adulta, o produtor corre o risco de retorno da incidência dessas plantas pois ela já espalhou sementes pelo solo. Além disso, as ervas daninhas já estão mais resistentes aos produtos destinados à sua eliminação. Diante disso, considera a adoção de doses sequenciais na cultura como a melhor opção. “Se você deixa para fazer apenas uma aplicação, quando o tiguera já está mais velho, terá que passar uma quantidade muito maior de produto para o seu controle. Enquanto que se fizer aplicações sequenciais, usa menos produto por vez, por se tratar de uma planta ainda nova, totalizando praticamente a mesma quantidade de herbicida”, compara. Diante disso destaca não se justificar o retardamento das aplicações de defensivos na cultura.

Da mesma forma, o agrônomo da Fundação ABC, mestre em Manejo de Grandes Culturas, Luis Henrique Penckowiski, explica, em publicação difundida em todo o Brasil, que as plantas voluntárias competem com a soja a disponibilidade de sol, água e nutrientes, além de serem condutoras de insetos, outras pragas e doenças. “Onde há uma planta de milho por metro quadrado de soja a perda é de quase 30%. Se forem duas a redução de produtividade chega a 44% e três pode ser de mais de 65% de perdas”, cita em publicação do setor.

 

PESQUISA DA FUNDAÇÃO ABC

A falta de chuvas neste início de safra tem sido apontada por técnicos do setor como um dos fatores que dificultou o controle do milho tiguera devido aos atrasos de intervenções dos agricultores no campo, tendo em vista que a dessecação antecipada teria sido dificultada neste caso. Com isso, tem sido recorrente a existência de até 10 plantas de milho por metro quadrado nas culturas de soja, o que reduz consideravelmente a produção da oleaginosa.

Pesquisa divulgada pela Fundação ABC traz quatro situações diferentes de produção de soja frente a incidência do milho RR. Em uma realidade de efetivo controle desta erva daninha, a produtividade alcançada seria de 4.739 quilos por hectare, por exemplo. Já nos casos em que há apenas uma planta de milho por metro quadrado de soja, essa mesma cultivar tem a produtividade reduzida para 3.228 quilos por hectare. Com duas plantas de milho nesta mesma metragem, a produtividade fica em 2.629 quilos por hectare e com quatro plantas por metro quadrado a produção não passa de 1.689 quilos por hectare. A quebra avaliada, neste caso, foi de 64,4% sobre o potencial de produtividade da soja cultivada. 


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