Pêssegos são avaliados para cultivo na região e são incrementos de rentabilidade na propriedade
- VIABILIDADE ECONÔMICA E AGRÍCOLA
Pelo menos três variedades se adaptam bem na região, sendo viável para o Médio Paranapanema
Embora o pêssego exerça atração visual e gustativa em muitos consumidores, na região do Médio Paranapanema ainda não há a cultura de semeadura desta fruta entre os produtores. Diante disso, uma pesquisa vem sendo desenvolvida pela Apta Polo Médio Paranapanema, para a avaliação de diferentes variedades nas condições de solo e clima regionais. As análises levam em consideração o ciclo, o aproveitamento dos frutos, o aspecto dos pêssegos, o que está diretamente associada à aceitação comercial do produto, bem como as interferências de pragas e opções de manejo existentes.
O pesquisador Sérgio Doná, responsável pelos ensaios no campo experimental da Apta em Palmital, comenta que pelo menos três variedades se adaptam bem na região, sendo viável para o Médio Paranapanema. No entanto, ele sugere que o cultivo ocorra em pequenas áreas para a introdução gradativa da cultura do pêssego e destaca a importância da organização dos produtores em associações para facilitar a comercialização. Ele também pondera que a indicação é que inicialmente esta cultura seja adotada pelos integrantes da agricultura familiar, sendo este um pequeno negócio agrícola, para só depois de já haver mais dados regionais, esta variedade ser adotada em uma maior expansão territorial sendo vinculada ao agronegócio. “É importante que a produção já tenha destino certo com preço garantido”, diz. A sugestão é que os pomares iniciais estejam distribuídos em áreas de até um hectare, para facilitar a adaptação do agricultor às práticas de manejo que a cultura exige. “O produtor deve ter entre 300 e 500 plantas nesta fase inicial e procurar parcerias com o município, por exemplo, para a utilização das frutas na alimentação local, fazendo também o escalonamento da produção”, explica. Uma situação que já segue essa linha na região pode ser vista em Tarumã onde existe apoio local para a fruticultura, com atuação do Sebrae para a formação da mão de obra destinada às lavouras frutíferas do município.
Na área experimental da Apta, em Palmital, os pessegueiros foram cultivados em outubro de 2010, tendo a instalação de irrigação iniciada em janeiro de 2012. As análises envolveram quatro variedades de pêssego, as quais foram quantificadas e seguiram os critérios de uma pesquisa científica, tendo ainda outras 14 espécies plantadas nas bordaduras como proteção às variedades estudadas, que também tiveram o seu desenvolvimento observado informalmente. Em toda a extensão da área desta cultura em análise, o solo é coberto com folhas de bananeiras e também de outras plantas, para evitar a transpiração da água que está no solo, bem como para diminuir a infestação de ervas-daninhas que possam se desenvolver no local.
Na parte da irrigação, três tensiômetros mostram a quantidade de água disponível às plantas no solo e a necessidade de acionamento do sistema para o balanço hídrico da área. Desta forma, a água é fornecida somente quando realmente é necessário. Tal estudo vem sendo desenvolvido por meio do Programa de Uso Racional da Água, iniciado em 2005, vinculado ao Comitê de Bacias Hidrográficas do Médio Paranapanema. As ações estão pautadas pelo monitoramento de águas de irrigação na Bacia Hidrográfica do Médio Paranapanema, o qual vem sendo concluído com o estudo da irrigação na fruticultura.
Variedades analisadas
Em São Paulo, a cultura do pêssego é mais comum nos municípios de Jundiaí e Paranapanema, onde a produção já é realizada em larga escala, tendo como principal impulsionador a cooperativa de Holambra II. “Nas regiões destes municípios o cultivo desta fruta já está avançado a ponto de ser referência para novas iniciativas”, comenta o pesquisador Sérgio Doná.
Já para a produção no Médio Paranapanema as três variedades consideradas viáveis pela pesquisa em andamento são o Regis, o Big Aurora e o Douradão. O Talismã, entretanto, que também está sendo analisado, tem um ciclo mais tardio e a frutificação ocorre no pico de infestação da mosca branca. Essa realidade faz com que a produção desta variedade sofra mais restrições em relação à qualidade da fruta destinada à comercialização. Por se tratar de uma pesquisa conduzida em uma pequena área de cultivo, com diferentes variedades de ciclos diversos, o controle da mosca se torna mais difícil. “Em propriedades agrícolas, com maior extensão e com apenas algumas cultivares diferentes, essa situação seria controlada com melhor planejamento e manejo”, explica.
Conforme avaliação dos cultivares, o pêssego Regis produz uma média de 650 frutos por planta, tendo um ciclo precoce, da floração à colheita, que ocorre em outubro. No campo experimental de Palmital, foram colhidos aproximadamente 30 quilos de pêssego por planta, o que representa um aproveitamento excelente, de acordo com a avaliação de Doná. Esta variedade possui polpa amarela, consistente e firme, podendo ser usada tanto para o consumo in natura quanto para a industrialização. “Por ser um pêssego precoce, a sua produção ocorre no período em que a mosca da fruta ainda está iniciando a sua atividade na região. Quando a mosca começa a atuar nesta área o pêssego já está em fase de colheita, o que não exige muita aplicação de inseticidas. Dessa forma, conseguimos obter frutos saborosos e com baixo índice de resíduos tóxicos”, avalia.
Doná destaca que, comercialmente, o pêssego Regis é bastante produtivo, tem aspecto interessante no ponto de vista comercial e sua maturação é obtida antes da produção da região Sul do país, o que ajuda na venda dos frutos. Por haver poucas aplicações de defensivos, é um fruto que tem pouca carga de resíduos de agrotóxicos.
Já o Big Aurora é uma variedade que na região produz uma média de 380 frutos por planta, equivalente a aproximadamente 20 quilos por pessegueiro. “É um pêssego adaptado para a região, com frutos firmes e um pouco maior em relação ao Regis, cerca de 10%. Isso porque o seu ciclo é um pouco mais longo. Enquanto o Regis produz no início de outubro, a colheita do Big Aurora é em torno do dia 20 deste mesmo mês”, explica.
Esta variedade, conforme dados da pesquisa da Apta, tem baixa exigência em relação ao frio, o que o favorece na região, que não possui um inverno tão rigoroso. Na região Sul do país são registradas cerca de 300 horas de frio e no Vale Paranapanema, as temperaturas baixas são verificadas em apenas 50 horas, aproximadamente. Mesmo assim, o Big Aurora consegue florescer e produzir satisfatoriamente nesta região.
O cultivar Douradão, por sua vez, também é uma variedade com qualidades para a região, porém ainda carece de acertos no seu manejo. Doná destaca que esta variedade gera frutos bastante graúdos, de 100 a 150 gramas, enquanto os dois anteriores variam de 50 a 70 gramas. Contudo, por questões de adequações do manejo para a região, ele ainda tem baixa produção de pêssegos por planta. Em média produziu 56 frutos por pessegueiro, o que representa uma produção média de cinco quilos de frutos por árvore.
A última variedade analisada, o Talismã, tem mais problemas devido ao seu o ciclo mais tardio e, como já dito, ocorre no pico de infestação da mosca branca. Entretanto, tem frutos de polpa clara, com consistência mole quando maduro e bastante saboroso. Seus frutos possuem entre 70 e 80 gramas. “Na agricultura familiar, a produção deste cultivar pode ser adaptada com o ensacamento dos frutos, o que seria inviável para as grandes áreas devido ao custo de mão de obra. O ensacamento geralmente é feito com papel amanteigado, o que gera frutos com melhor calibre e de maior peso. Além disso, esta medida permite que os frutos fiquem livres de resíduos de agrotóxicos”, comenta. Trata-se de uma variedade de alta produção, com média de 25 quilos de pêssego por planta. É bem adaptado às condições climáticas regionais, mas em circunstâncias de produção no campo sem ensacamento, a perda da qualidade comercial dos frutos pode chegar a 90%.